Bikepacking em Portugal com Juliana & Juliet

Lisa Roolant

Julieta a pedalar no Alentejo na prova de bikepacking Gravel Birds

Uma corrida de bikepacking como a Gravel Birds não é um evento de ciclismo qualquer. São 750 km a atravessar a natureza bruta e selvagem do Alentejo, convidando ciclistas de todo o mundo a mergulhar — na paisagem, na aventura e em si próprios.

Este ano, a Siesta Campers teve orgulho em apoiar a corrida como van oficial de media — a acompanhar “os pássaros”, a captar histórias e a apoiar à margem do percurso.

Entre os participantes, destacava-se uma dupla feminina:

Juliet Elliott, ciclista britânica considerada uma das mulheres mais influentes do desporto, ex-snowboarder profissional e criadora de conteúdo; e Juliana Veterano, treinadora de nutrição nascida no Brasil, residente em Girona e fundadora/apresentadora do podcast Zone2Speak, um programa que mergulha no mundo do ciclismo. 

A dupla de ciclistas de aventura Juliet Elliott e Juliana Veterano


Ambas são atletas de endurance com experiência, apaixonadas por trilhos off-road e com uma missão comum: tornar o ciclismo mais inclusivo — especialmente para mulheres.

Falámos com Juliana e Juliet para refletir sobre o que implica participar numa aventura destas: a determinação, a amizade e a magia de perseguir a liberdade.

Conta-nos como começou a vossa jornada no ciclismo. Onde tudo teve início?

Juliet: Comecei a pedalar em Londres como meio de transporte, mas as minhas bicicletas e peças estavam sempre a ser roubadas! Isso levou-me a construir a bicicleta mais simples e barata possível, com peças encontradas. Achei um quadro abandonado e transformei-o numa fixie: uma só velocidade, sem travões, só as pernas. Apaixonei-me pelo ciclismo com essa experiência — encontrar o "flow" no trânsito, brincar com o ritmo da cidade. Também havia uma cena fixe a surgir na altura e fiquei completamente viciada.

Julieta faz uma pausa na corrida


Juliana: Cresci no Rio de Janeiro a andar de bicicleta com os meus dois irmãos. Ter uma bicicleta fazia parte da vida. O meu pai levava-me à escola de bike — sem capacete, sentada no quadro.

Mais tarde, quando fui para os EUA estudar, comecei a participar em gran fondos, mas sempre na descontra. Juntei-me a uma comunidade de ciclistas femininas em Miami e desafiaram-me a participar num triatlo. Depois disso, passei a competir em meias distâncias de Ironman. Foram uns 10–12 anos assim, incluindo quando vivia no Dubai. Era uma parte enorme da minha identidade: treinos, comunidade, tudo.

Quando conheci o meu marido — um ex-surfista profissional que virou ultra-ciclista — descobri o gravel e o bikepacking. O que me cativou foi a liberdade e a aventura.

O que vos atraiu na ideia de participar na Gravel Birds?

Juliet: Foi sobretudo a oportunidade de pedalar com a Juliana e explorar um lugar novo!

Juliana: Já tinha corrido em Portugal, no BikingMan, e apaixonei-me pelo Alentejo. Lembra-me a savana africana. Horizontes infinitos, colinas douradas, estradas tranquilas. Podem passar horas sem ver vivalma, mas há sempre um café quando mais precisas. Isso é raro e mágico.

A carrinha Siesta Campers x Gravel Birds nos campos do Alentejo


A Gravel Birds decorre nessa região durante a primavera. As flores estão a brotar — campos inteiros de roxo e amarelo — e os pássaros estão por todo o lado. Daí o nome da corrida. Fazer bikepacking em Portugal é algo sereno, autêntico e incrivelmente inspirador. Portugal sabe mesmo como apoiar uma boa aventura!

Qual era o vosso objetivo para a corrida?

Juliet: O plano era pedalar o dia todo, rir muito, meter-nos em situações meio loucas e viver tudo o que o Alentejo tem para oferecer. Gostamos de nos desafiar, claro — mas o objetivo principal era desconectar da vida do dia-a-dia e aproveitar a viagem.

Juliana: Para nós, é sobre a jornada. Não estávamos a competir por pódios — queríamos fazer 150–180 km por dia, dormir bem e absorver tudo.

A Juliet é uma ciclista incrível e funcionamos bem como equipa. Já corremos juntas na Race Around Rwanda. Dizemos sempre: ou se tornam melhores amigas ou deixam de se falar para sempre. Felizmente, foi o primeiro caso para nós!

Agora que já recuperaram, como olham para esta experiência de bikepacking em Portugal?

Juliet: Começou de forma super exigente — muito mais subidas do que esperávamos. Felizmente estávamos frescas. O segundo dia começou bem, mas fizemos menos quilómetros do que planeado. Comecei a preocupar-me com cumprir o tempo total. Na realidade, tínhamos margem — mas todos estabelecemos objetivos internos.

Piloto da Gravel Birds ao lado da carrinha Siesta Campers x Gravel Birds


Juliana: Sim, começou em beleza — estávamos a voar. Mas ficou duro rápido. No terceiro dia, as subidas perto de Santa Clara foram brutais. Quando cheguei ao segundo checkpoint, já tinha acumulado 8.000m de subida — o total esperado para a corrida inteira — e ainda faltavam 250km. Foi aí que decidi parar. Não tinha dores nem lesões — só percebi o meu limite. E quis terminar em alta. Tinha tido dias lindos, reconectado com a Juliet, absorvido as paisagens. Foi a decisão certa. Este tipo de desporto é sobre definir o sucesso com os teus próprios termos.

Juliet: Fiquei triste quando a Juliana decidiu parar e, sinceramente, tive momentos em que me senti mal por continuar sozinha. Mas era importante para mim concluir a corrida, e estou feliz por o ter feito.

Como se preparam para uma aventura de bikepacking como esta?

Juliana: Tens de treinar as pernas, o estômago e a cabeça. A parte física é importante — potência, resistência, técnica. Mas também é essencial aprender a alimentar-se bem, levar só o essencial e resolver problemas em andamento. Eu levo o mínimo: calções extra, meias, kit de higiene e casaco impermeável. E sempre testo a bike com as malas carregadas — se algo estiver mal ajustado, vais sentir ao longo dos 750km.

Juliet: Estas corridas tornam-se mais fáceis a nível mental com a experiência. Aprendes o que levar, o que consegues digerir e até onde podes ir. Hoje em dia, a minha preparação é essencialmente tempo em cima da bicicleta e sessões de ginásio. A experiência ensina o que realmente importa.

Piloto da Gravel Birds ao lado da carrinha Siesta Campers x Gravel Birds


Viram a carrinha da Siesta Campers durante a corrida?

Juliet: Sim! Fiquei tão feliz por vê-la quando percebi que tinha deixado o telemóvel no parque de campismo no primeiro dia. Não fazia ideia de onde estava... Tive de voltar a Castro Verde, ao camping onde ficámos. Vi a carrinha da Siesta ao longe e vieram em meu socorro!

Juliana: Foi mesmo giro ver a van por ali — encaixa perfeitamente na vibe do bikepacking em Portugal. É como uma base móvel de apoio.

Para ser sincera, ando a sonhar com uma road trip de van há algum tempo — pelos Pirinéus ou Portugal. Ter essa liberdade, parar quando quiseres, mudar os planos, descansar na natureza — é esse o tipo de aventura que me inspira.

Julieta de regresso a Castro Verde


Que aventuras de ciclismo têm planeadas a seguir?

Juliana: Vou competir no Stone Circle no Reino Unido, e depois eu e a Juliet estamos a planear uma viagem de bikepacking na Capadócia, na Turquia.

Juliet: Bikepacking na Capadócia com a Juliana, corridas nos Alpes, uma prova de BTT por etapas em Espanha, a Gravel Burn na África do Sul e depois Across Andes em novembro!

Juliana: Para além disso, estamos a sonhar com um rally de bikepacking liderado por mulheres — criar um espaço que acolha mais gente neste desporto maravilhoso.

Segue a jornada

Segue @julietelliott e @this.is.juliana.v no Instagram para acompanhares as aventuras delas sobre duas rodas e fica atenta(o) às novidades da Gravel Birds do próximo ano.

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